quinta-feira, agosto 18, 2005

Desesperado momento de solidão
Sento-me num banco de madeira no parque
E vejo os ramos quebrarem o seu dislumbre
Um miúdo passa numa bicicleta vermelha
Um qualquer pássaro voa em direcção a Sul
A alguma distancia consigo ver um pai aflito
Um vagabundo dorme no banco a uns escassos metros
Que é feito de ti...
O barulho dos balouços parece não querer abandonar algo que se tornou rotineiro
Alguém passa por mim e tem um ar triste
Diria fúnebre
Hey! Seu velho maluco! Que queres de mim!?
Não passas de um escravo dessa vida de avareza!
São todos uns amantes da madrugada
Mas escondem-se por entre as nuvens da noite
O parque fica no meio da cidade
Motores ouvem-se por vezes abafados pelas arvores
Onde estás tu velho amigo?
Mostra-te...
Sai desse véu, dessa nuvem...
Sai e vem sentar-te aqui
Anda
Há um lugar para ti
Guardei-o
Ès amigo da floresta, és meu amigo...
Mostra-me a vida que levaste para eu aprender
Eu posso dar-te ainda um pouco da minha juventude
Não quererás rir-te?
Ainda consigo rir-me...
Ainda...
Não quero ser como tu!
Quero ficar sempre assim...
Amante da natureza
Devendando a vida
Posso ensinar-te a tecnologia...
Ou a verdadeira realidade virtual
Sabes...
As pessoas não querem mais saber delas...
Querem Poder, fama, dislumbre...
Ego...
Querem o que tu nunca tiveste
O que eu não procuro
E o que nunca ninguém deveria procurar
Estes tempos estão doentios...
Estão corruptos...
Quem dera a mim viver nos teus tempos
Nada mais seria do que uma boa lembrança
E morreria em paz
Mas aqui sentados num velho banco de madeira...
O passado encontra-se com o futuro
Num qualquer parque de Benfica
Parece que ouço as árvores conversarem por entre as folhas
O suspiro do vento por entre a estrada de areia
Ou o Sol enfraquecido que espreita pelos ramos
Tentando desvendar algum caminho interior
Esquecido pelo tempo
Ah... Como queria que os tempos voltassem atrás
Imagino-me num coche de madeira andando pelas ruas
Os barulho das patas dos cavalos pelas avenidas mal formadas
E as pessoas que vendem o vinho na rua
Nada posso fazer senão habituar-me...
E habituar-me significa morrer
Quero ver as ruas cheias de gente
O cheiro da verdadeira vida
O tutano
O poeta que vende folhas soltas pela feira
Ou o ferreiro que cospe no chão
Deixa-me sonhar,
Deixa-me sonhar...
Deixa-me viver...