Vozes que se falam
Que se calam
Calmamente no delírio dos olhares
Indiscretos…
Vozes que se odeiam
Que se mentem
Calmamente na passagem do tempo
Morrem as vozes que se sentem
Morrem por vezes na eternidade das palavras
As vozes que se amam
Morrem as palavras
As palavras que não dizem nada
E que vão dizendo tudo
Falam as palavras ao coração
E morrem…
Morrem por vezes as palavras que não se movem
Na ausência dos corpos
Morrem as palavras ditas
Morrem as palavras dos idosos
Na solidão agreste da idade
Morre a cultura das palavras ditas
E não ditas…
Morre a palavra culta e a palavra sensata
Morre a palavra humilde e desinteressada
Todas elas morrem por vezes
Morrem estas palavras depois…
Na imensidão do tempo
Matam-se umas às outras
Pelas bocas ou expressões
Matam-se a cada dia e também na noite
As pessoas e as palavras
Que não se sentem…
Que se odeiam…
Matam-se!
Matam-se as pessoas…
E esquecem-se as boas palavras
Que nunca morrem
Mas que vivem na ternura da eternidade