quarta-feira, novembro 21, 2018

Sabes que me encontro longe?
À distância de uma madrugada exausta
Consumida pelo fogo da noite
Nos meus ombros, um casaco envelhecido
Observo o tempo que passa devagar
Está frio e escondo a cara
Procuro a liberdade neste papel branco
Se a encontrar mantenho-a em cativeiro
Sob as correntes apertadas do mundo
Os olhos fechados, discutem com a escuridão
Rasgam a noite que há em mim em mil pedaços
Confundem-se ou fundem-se
Com o apagão nocturno
Não, não é Setembro
É apenas uma noite familiar
Onde caio e me levanto
Como uma maldição
Não preciso de ir buscar inspiração a lado algum
As palavras vêm ter comigo
Crescem aqui dentro
Um fardo pesado que cicatriza lentamente
Por vezes finjo que passa
Outras descaio-me nas palavras
Como se escorregasse na chuva
Ou se caísse no chão coberto de destroços de guerra
Sabes, longe não é assim tão longe
Volto para trás e avanço
Hipnotizo o tempo
E faço dele o meu aliado
Não quebro a espada
Não desfaço a alma
Não parto nada que não esteja partido
Olho a noite a passar
Vejo-a escrita
As minhas palavras movem-se silenciosas
Como um navio que tenta alcançar uma terra distante
Uma paz utópica
Uma feitiçaria
Um qualquer poder nocturno