sexta-feira, dezembro 12, 2025

Gente apressada, carros, luzes
Entre uma volta e outra
Há sempre alguém que almoça de pé ao balcão
Como um coração encostado a uma vitrine
A vida a acontecer là fora
O mundo a seguir em frente
Há pessoas assim
Atravessam-se no dia
Como quem atravessa na rua um sinal vermelho
Pessoas apressadas e simples
Passam por mim como dias da semana
Carros, notícias, contas, ruídos
Merdas
Talvez viver seja isto
Aceitar que a vida é apressada e simples
Tornar-se mais alguma coisa 
Deixar o mundo continuar a girar
Abrigar as tempestades por dentro

quarta-feira, dezembro 03, 2025

Hoje levantei-me
Acho que coloquei o dia às costas
Como todos os dias mas com mais cuidado
E saí à rua
Não saí com pressa de chegar a algum lugar
Mas saí para não deixar que a minha alma
Chegasse atrasada à vida
Dei conta que às vezes me atraso
E tenho medo de me perder
Medo de me sentir cansado
É que o mundo lá fora corre
Com pressa de chegar a lado nenhum
E deus por vezes pergunta
Então? Quando é que voltas para casa?
E eu finjo que não ouço
Arrumo a alma em prateleiras tortas
Digo-lhe que ainda tenho coisas para fazer
Que há contas para pagar
E medos para adiar
Mas no fundo sei
Que cada vez que o sol se vai
É um bilhete que se rasga
Uma partida que adio
Talvez um dia responda:
Deixa-me só acabar este abraço
Este café
Um poema
E volto