Trago uma carta amarfanhada no meu bolso
Marcada com as letras do meu olhar
E a tristeza do meu sorriso
A tinta despojou no papel
As palavras do meu sentir
Estão borradas as palavras...
Trago-a rasgada nos cantos
De tantas vezes a reler
Finalmente consigo agora ver o mar
Por entre as ameias da cidade
E no mistério da noite os anjos calam-se
Num ritual solene
Embriagados pela melancolia do meu olhar
Como se me levantassem em silêncio
Para me embalarem num culto secreto
Nesta estrada distante ouço as marés
As verdadeiras marchas do oceano
Que se esbatem contra as rochas
Os novos sons são perseguidos
Pelo cheiro dos amantes
A areia oculta nesta madrugada
O segredo do meu sentir
Quase nem a sinto no meu canto de desespero
Fecho os olhos e releio a minha carta novamente
Desta vez acompanhado pela minha voz interior
Pois sabe a côr de todas as letras que pintei
Com o sangue da minha alma
Despojei-a assim...
Com o vigor da minha mão
E a coragem do meu aparo