sexta-feira, dezembro 12, 2025

Gente apressada, carros, luzes
Entre uma volta e outra
Há sempre alguém que almoça de pé ao balcão
Como um coração encostado a uma vitrine
A vida a acontecer là fora
O mundo a seguir em frente
Há pessoas assim
Atravessam-se no dia
Como quem atravessa na rua um sinal vermelho
Pessoas apressadas e simples
Passam por mim como dias da semana
Carros, notícias, contas, ruídos
Merdas
Talvez viver seja isto
Aceitar que a vida é apressada e simples
Tornar-se mais alguma coisa 
Deixar o mundo continuar a girar
Abrigar as tempestades por dentro

quarta-feira, dezembro 03, 2025

Hoje levantei-me
Acho que coloquei o dia às costas
Como todos os dias mas com mais cuidado
E saí à rua
Não saí com pressa de chegar a algum lugar
Mas saí para não deixar que a minha alma
Chegasse atrasada à vida
Dei conta que às vezes me atraso
E tenho medo de me perder
Medo de me sentir cansado
É que o mundo lá fora corre
Com pressa de chegar a lado nenhum
E deus por vezes pergunta
Então? Quando é que voltas para casa?
E eu finjo que não ouço
Arrumo a alma em prateleiras tortas
Digo-lhe que ainda tenho coisas para fazer
Que há contas para pagar
E medos para adiar
Mas no fundo sei
Que cada vez que o sol se vai
É um bilhete que se rasga
Uma partida que adio
Talvez um dia responda:
Deixa-me só acabar este abraço
Este café
Um poema
E volto

terça-feira, julho 22, 2025

Às vezes num único suspiro
O Universo revela-se
Como nas histórias perdidas entre a sombra e a luz
Aquele mundo encantado onde as folhas dançam
Onde os poemas ecoam
Por entre as ruas silenciosas, onde o vento ainda sussurra o teu nome
E eu pergunto onde está o teu abraço ?
O calor da tua voz que já não toca o meu ouvido ?
O perfume suave que ficou no ar ?
Como uma lembrança que não sabe partir
Ah, como as horas se arrastam sem ti
Em cada esquina que viro, cada sombra que encontro
Carrega a tua ausência como uma lágrima seca
E as estrelas...
Que em silêncio testemunham a minha saudade
Num grito mudo que ecoa em todos os cantos da minha alma

segunda-feira, novembro 04, 2024

Há uma suavidade que permanece
nos lugares onde a luz não chega
espera uma respiração silenciosa
presente no espaço entre os meus pensamentos
Sigo então os limites da memória
tal como os dedos numa cicatriz
vou tocando os momentos guardados
nos recônditos ocultos do meu coração
Mas... 
O mundo move-se lá fora
uma maré incessante de vozes
mas dentro deste silêncio
encontro-me, inteiro e frágil
Escrevo não para ser ouvido
mas para sentir o peso do alivio
para nomear as sombras
e deixá-las fluir, livres, na noite

segunda-feira, maio 16, 2022

Obrigo-me a esquecer as promessas que te fiz
Todas demasiado verdadeiras para se materializar em numa única vida
Desisto

sexta-feira, maio 13, 2022

Vai passar
E quando passar vou-me embora
Sem dizer nada
Sem dúvidas
E sem ti

terça-feira, abril 26, 2022

Eu
Que em noites como esta preciso de um abraço teu
Um beijo ou qualquer coisa
Em vez disso estas lágrimas soltas
Num caminho serpenteado pela tua ausência
E tenho tantas saudades de ti
E tu...
Que tens dúvidas e medos
Deixas me a vaguear num mar de sonhos
Atropelado pelas ondas desamparadas da vida
A minha alma de não te ver todos os dias anda perdida
Só espero que o amor me salve da vida
Pois estou cansado de esperar 



terça-feira, fevereiro 01, 2022

Bem que podias aparecer e matar esta solidão
Esta saudade intensa que tenho de ti
Como um jejum absoluto
Que me deixa louco
Despojado dos teus olhos que amo
E às vezes para matar a saudade
Penso em ti e nos momentos que passámos
Como é dura a vida 
Como é estranha esta solidão sem ti 
E os dias passam quando não te vejo 
Mas tenho razões para sentir saudade de ti
O dia passa e a saudade aumenta
E de noite fecham-se os meus olhos em sonhos
É demais esta saudade
Mesmo que distante quero amar-te para sempre
E ser sempre teu

sexta-feira, setembro 17, 2021

Tropeço no que verdadeiramente sinto
Como se a cada instante da minha existência
Eu pudesse contemplar todos os passos dados
Caio e o meu corpo levanta-se
A minha alma fica deitada por breves momentos
Como se quisesse repousar um pouco
Só um pouco...
Para depois estar junto dela
E que saudades eu sinto dela
Só queria ficar por momentos a respirar junto a ela
Sentir-lhe a mão e a vida
E toda esta saudade podia ir embora

quarta-feira, julho 21, 2021

Eu quero que ela saiba 
Que todas as noites sem ela
São apenas passagens indiscretas pelo caminho da saudade
Vagueando por aí nas esquinas do seu olhar
Abro caminhos nunca descobertos em mim


sexta-feira, julho 16, 2021

O que me atraiu não era a beleza externa
Mas a capacidade de me recriar
De criar mundos 
E de amar

terça-feira, julho 13, 2021

Para além da felicidade 
Tudo às vezes é mesmo triste
O problema é quando o tempo passa
E a agonia dos dias iguais não deixa ver o bom,  possível e positivo
Depois passa o tempo
E esse nem sempre cura

As vezes apetece-me fugir
Fugir para fora da terra
E quando fujo para além da atmosfera
Não quero voltar
Fico fora, ausente
Deixo-me embalar na incerteza dos dias e das noites
Depois... De volta á terra
A grande selva permanente
Onde tenho de viver
Onde a cidade bruta nos faz velhos 
Num desafio desonesto contra o tempo
Permaneço vivo
Como se tivesse a capacidade de ser um super humano
Ou um super qualquer coisa
Uma luta constante
Uma agonia permente
Nesses dias a cidade
Não é mais que um esboço
E eu não sou mais que um homem
Feito de retalhos
Pedaços pequenos 
Fantasmas que vão e vêm
Poemas dispersos em cadernos 
Noites mal dormidas
E é no fugir que me encontro
Numa estrada crua que já conheço 
A pensar em ti...
Como se estivesses aqui
Carne da minha carne
Alma da minha alma
Palavra por palavra
A pensar em ti...
Várias vezes ao dia
Sem que precise de justificação
Para que todo eu seja teu
E o prazer que me consome em pensar-te
Deixa-me extasiado
Inundado de amor por ti
E aqui me deixo a pensar em ti
Sim, em ti
Como se a noite fosse só minha e tua
E nela coubessem todos os sonhos do Homem

quarta-feira, junho 30, 2021

Tempo

Há muitos, muitos anos, talvez até tantos quanto poderemos pensar, houve um fantasma, era um homem que pela sua morte se tornou numa alma penada, não é que tivesse penas de pato, ganso ou até de avestruz. Não, nada disso, mas de facto não era um qualquer fantasma, nem sequer era assustador ou assustava alguém como é suposto os fantasmas fazerem, pelo menos os que eu conheço. 

    Certo dia, depois de fazer todas as coisas que os fantasmas fazem pela manhã, ele deambulava por onde passeava todos os dias, à mesma hora e para seu espanto reparou que o seu relógio estava parado. Algo que ele nunca tinha dado conta porque raramente se dava conta do tempo. A coisa preocupou-o tanto que naquele momento ele parou, ali mesmo no meio da rua e ficou a olhar atentamente para o ponteiro que não se movia, que parecia estar morto como ele. Pensou para si mesmo “Mas que raio! Querem ver que o meu relógio morreu também?” e começou a correr preocupado a tentar encontrar um relojoeiro. De facto ali perto, havia há muitos anos uma relojoaria, uma loja onde fabricavam e arranjavam os mais complexos relógios. Sem saber as horas só pensava no seu relógio parado, andou e andou até que encontrou finalmente uma loja com uma grande porta de madeira onde se podia ler em letras bem grandes “O tempo não para, e os relógios também não devem parar.”. – Que ironia – Pensou. Assim que chegou ficou parado à porta, o seu inexistente coração batia como um relógio apressado, infelizmente não conseguiu entrar na loja, um pequeno cartaz anunciava que fechara para férias. Cabisbaixo, o fantasma olhava para o seu relógio fixamente e pensava se alguma vez mais iria ver os seus ponteiros a andar novamente. Quando se deu conta, era de noite e apercebeu-se uma vez mais que o seu relógio tinha as mesmas horas, as horas em que tinha parado, precisamente seis e trinta e quatro. Já nem ele sabia que horas eram, perdera a noção do tempo, mesmo em vida as horas para ele pareciam nunca passar, mas, naquela noite, era uma noite diferente, o seu relógio tinha parado e com ele o tempo, como que petrificado, isolado de qualquer atividade numerológica. Aquele fantasma sentia-se verdadeiramente deprimido. 

    Sentou-se num banco de jardim ali perto e decidiu esperar que a grande porta de madeira se abrisse. Passou um dia, dois dias, três dias, uma semana, duas semanas e nada. - Mas que raio! Quem será que tira tantos dias de férias? – Pensou indignado. Ao pensar isto, reparou num pequeno homem que caminhava em direção à porta e pensou: “Finalmente alguém para me abrir a porta e arranjar o meu relógio.” Levantou-se e saiu a correr, entrou, falou, esperou e falou novamente, mas ninguém o ouvia, nem sequer o viam, a não ser um pequeno e stressado cão que ali estava sentado a abanar o seu rabo preto, o cão via-o, dizem que os cães veem os fantasmas, não sei, é o que dizem. O pequeno homem atrás do balcão disse em voz baixa: “Estou a ver aqui um relógio que não trabalha.”. Rapidamente um sorriso surgiu na cara do fantasma. Pensou logo que era ele e o seu relógio, e num ápice tirou o relógio do pulso e poisou-o em cima do balcão. O relojoeiro nem sequer olhou para o relógio, para ele não havia nada no balcão a não ser uma velha caixa registadora e uma pequena caixa de velhos botões. O fantasma triste disse: - Mas que raio! Se ao menos alguém me ouvisse! - Mas ninguém o ouviu, exceto o cão que o olhava com olhos de tédio e já não abanava o rabo preto. Voltou a pegar no relógio e colocou-o no pulso, no momento em que se preparava para apertar a bracelete reparou em algo que nunca tinha reparado antes, um pequeno botão redondo situado no lado oposto ao número três, um pequeno mecanismo escondido. Curioso o fantasma decidiu rodar aquele pequeno botão redondo para trás, mais precisamente duas pequenas voltas. Naquele preciso instante, o fantasma e o seu relógio regressaram ao banco de jardim, precisamente em frente à loja do relojoeiro e precisamente onde ele tinha estado dias antes. Confuso, voltou a rodar o botão duas voltas para a frente, para seu espanto deu consigo instantaneamente dentro da loja do relojeiro novamente no dia presente. – Que raio de magia é esta? – Pensou ainda mais confuso. Decidiu então dar voltas e voltas para trás no botão redondo e deu consigo no banco de jardim, no primeiro dia em que se tinha sentado à espera que a relojoaria abrisse. Ele não queria acreditar no que estava a acontecer e voltou a rodar, a rodar e a rodar para trás aquela pequena roda mágica, rodou-a tantas vezes quantos os dias o seu relógio tinha parado. Mais precisamente no início do dia, reparou que quando acordou não tinha dado corda ao seu relógio e assustou-se como se fosse um fantasma pela primeira vez. Como se ele nunca se tivesse assustado. De seguida lembrou-se que era um fantasma, quis rodar a roda do seu relógio para momentos antes da sua morte, mas, simplesmente não conseguia, a pequena roda ficava presa, como que bloqueada, parecia não querer voltar tanto tempo atrás no tempo, talvez porque o corpo do fantasma não estava mais lá, estava ausente. Ele compreendeu então que o grande desconhecido era o seu estado atual e ficou triste, triste como nunca um fantasma até então teria ficado, pensava em coisas que nunca tinha pensado e deu conta de que não iria mais sentir o abraço apertado de alguém. Profundamente triste voltou a rodar a roda do seu relógio para a frente, rodou e rodou e rodou, precisamente até ao dia em que pousara o relógio no balcão do relojoeiro. Saiu da loja e reparou que havia uma paragem de autocarro com uma enorme tabuleta que dizia “Destino: Nova vida”. Sentou-se e aguardou. 

Há sempre um conjunto de palavras no ar
Que, se as deixar impressas
Vão ter a lugares diferentes
Como se voassem pelo vazio do branco papel
Como se o nada ficasse tão cheio de tudo
O que era uma folha branca 
Passou a conter todo o universo
E dentro e fora de tudo isso
Ainda há algo a ser melhorado
Nem os meus olhos
Nem a minha boca se recordam de ter amado assim
Mesmo até quando o mundo parece conspirar contra
É bom amar-te
Parece-me ser a ordem natural das coisas
Onde nada é imperfeito
Só a saudade de ti me parece abismal
Mas amar desta forma...
Nenhuma caneta das minhas teve o prazer de presenciar
Nem as fitas das máquinas
Nem sequer a eletrónica
E sempre foi necessário para mim 
Este encontro contigo e com a minha alma
De uma forma poeticamente louca
A única vez em que verdadeiramente pensamos no amor
É quando realmente acontece a nós próprios
Até lá parecemos intocáveis
E o mundo parece perfeito

terça-feira, junho 29, 2021

Quando acordares de manhã
Lembra-te que em noites como esta rimos juntos
Fizemos a noite ser nossa
E a noite não passou despercebida
Nunca passa
Quando acordares de manhã
Sabe que pensei em ti
Talvez até tenha sonhado contigo
Connosco
E que nem sempre os dias são iguais
Quando leres estas palavras 
Sabe que te amo
Pois não sei o que vem depois do amor
Mas só pode ser bom
Queria estar acordado para te ver sorrir
Para sentir o sabor da tua boca
O cheiro da tua pele
Quando não estou contigo a saudade de ti 
Agarra-se ao meu peito
E assim às vezes posso fraquejar
E a minha alma pode endoidecer de não te ver
Quem me dera que soubesses isto que sinto
Este silêncio da noite não seria tão monótono
Quando estiveres no teu recanto acordada
Lembra-te de mim junto ao teu corpo

quarta-feira, junho 23, 2021

Este, talvez não seja um poema
Uma confissão quem sabe
Por vezes na vida abandonei alguns lugares
Alguns por medo
Outros por recordações mais fortes
Fátima,
É desses lugares
Aqueles que o tempo não esquece mas guarda
Recordações permanecem dentro
Como se não existisse o tempo que passa
E as imagens da avó Dolores
Percorrem a minha cabeça às voltas
A avó que de joelhos percorria a praça
Sempre às voltas num ritual só dela
Por vezes somos apenas rituais
Não tinha mesmo nenhum aqui
Apenas um medo das recordações
Até que me ofereceste um
Um ritual teu e só teu
Às vezes precisamos que nos guiem
Eu preciso por vezes
Mesmo que seja algo sem grande importância
Guiaste-me por entre o teu silêncio
Por entre as velas
Depois a missa numa paz tranquila
No mesmo silêncio onde as lágrimas escorrem
E acesas as velas com o lume de outras velas
Algumas derretiam tão rapidamente como a vida
E tu ao meu lado
E a vida aqui metafórica numa tranquilidade só nossa
Revelou uma serenidade presente
E esta recordação de ti é única
Depois o sorriso
Depois tudo o que vem com e sem ritual
Nosso, só nosso

segunda-feira, junho 21, 2021

Se tu viesses ver-me esta noite
Podia ser num sonho
Ainda que alto e forte
Sem cair no exagero
Podia ver-te de olhos fechados
Percorrer as linhas do teu rosto
E quem sabe beijar-te
Fazer amor contigo numa luxúria quase louca
Quantas vezes já exagerei?
Tantas quantas a vida me deixe
E quem me dera que fosse sempre assim
Se às vezes sou forte e corajoso
Outras sou apenas fraco e triste
E nos crepúsculos da noite
Posso ser um sonho
Que importa o mundo se não amar perdidamente?
Para que serve a minha boca senão para beijar-te?
É este o exagero? 
Nele tropeço a todo instante
E não me faz ferida
E ponho-me a pensar... se tu viesses ver-me esta noite
Deixava-te prostrada depois do amor
Num exagero premeditado
Onde as minhas mãos procuravam cada linha do teu corpo
E a minha alma que se fundia com a tua
Traçava em mim o infinito
Como se toda a noite se calasse
Para nos ver sorrir



domingo, junho 20, 2021

Trago-te no meu peito
Onde as madrugadas são mais quentes
Mesmo assim sou aquele que tem saudade
Insisto em pintar-te nestas palavras
Como um amor fervente e louco
Sou eu, impossível ser outro
Sou apenas eu
Que me tornei o grande íntimo da madrugada
Para escrever que te amo
Para gritar que te quero
Para te ter junto a mim 
Dentro e fora do meu peito


sábado, junho 19, 2021

Todas essas partículas de particularidades
Todos esses filtros desfiltrados
Num desfile atemporal
Todas as singularidades que em ti existem
Tudo isso e mais aquilo que não compreendo
Todas essas coisas que gosto em ti
Como se uma chama ardesse sem tempo contado
Ou o tempo fosse uma dimensão desconhecida
É assim que te amo amor
E é assim que te quero
Numa liberdade permanente junto a mim
Em que todos os sonhos se alcançam
Num frenético dia-a-dia sem fim


quinta-feira, junho 17, 2021

Sinto ainda a minha boca dormente dos teus lábios
O toque das tuas mãos no meu corpo
Sinto-as como se não me tivessem largado
E o teu peito está ainda colado ao meu
Fecho os olhos e o teu sorriso não me abandona
Sei de cor o sabor da tua pele
Tens o cheiro do que eu amo
Guardo só para mim todo o sabor da tua boca
E como um cego vejo-te sem te ver
Neste mundo, onde todo eu sou teu

quarta-feira, junho 16, 2021

Passa a noite...
E já caí em desespero
Já sorri também
Mas não me consigo deitar
Nem sequer dormir
Por momentos deixei de sonhar
As palavras deixaram de fazer sentido
Palavra por palavra
Deixei de me sentir
É que hoje sinto-me pobre
Talvez forte como uma alma gentil
Nunca uma controvérsia...
Nunca uma má intenção...
Às vezes uma palavra abre a porta
Um caminho para uma outra dimensão
Desde que me sentei
Ocorrem-me devaneios
Simples intenções de viver
Aqui sozinho com a noite 
Como se esperasse que ela acabasse

terça-feira, junho 15, 2021

Às vezes, nem sempre...
É necessário a tristeza
Para alcançar um pouco de felicidade
Outras nem sei
Já não sei de nada
Talvez o mundo já não seja um lugar feliz

segunda-feira, junho 14, 2021

Quero a tua boca só para mim
O teu sorriso onde encontro todas as coisas
Quero todos os momentos
E não te quero só porque sim
Quero que me queiras também
E assim quero viver
Junto ao teu corpo de mulher
Numa fragrância de mil sons
Já não sei outro caminho para os teus olhos
Senão aquele onde me encontro
Onde quero passar a primavera, verão, outono e inverno
De todos os anos em todas as vidas
É assim que te quero amor
Numa perfeita luta constante corpo a corpo
Alma com alma
Beijo com beijo




Quando puderes apaga a luz
Fecha a janela e vem para junto de mim
A noite passa devagar e não adormece
O sabor da tua pele na minha boca
E o calor do teu corpo junto ao meu
Por vezes a vida é mais que um poema
Com raízes profundas
Escuto o teu corpo
Sinto a tua respiração enquanto dormes
Encosto-me a ti e sonho acordado
Numa madrugada só nossa
Amo-te e tenho fome de ti
Como se a minha boca procurasse sempre alimento



quinta-feira, junho 10, 2021

Sei que já é tarde na noite
Mas vim aqui dizer-te 
Que não vou parar de te amar nunca

quarta-feira, junho 09, 2021

Gosto quando falamos
Quando trocamos palavras 
E pelo meio os nossos olhos se cruzam
Como se procurassem alimento
As palavras tocam-se como beijos quentes
Gosto quando temos opiniões diferentes
E também gosto quando a sintonia nos arrasta para nós
Ou quando o silêncio invade a nossa conversa
Gosto da sensação de estares presente mesmo ausente
Como um sorriso permanente
Gosto sim, de ter-te sempre comigo
Mesmo que em pensamento
Como se estivesses sempre no meu peito


terça-feira, junho 08, 2021

Às vezes no silêncio da noite
Ouço um ou outro som que não sei decifrar
O meu coração bate forte, bate rápido
Deito-me com fome da tua boca
Mas tenho em mim o teu perfume
O toque da tua pele
E o teu cabelo junto ao meu peito
É assim que te sonho
Tu e eu numa utopia só nossa
Junto ao mar
Em qualquer lugar
Beijo a beijo
Toque a toque
Vês? Este é o grande silêncio da minha noite
Onde te escrevo
Guardo-o na sombra ou na luz
Faço-me á madrugada sem orgulho
Mas não quero que fiques longe de mim um dia que seja



domingo, junho 06, 2021

quinta-feira, junho 03, 2021

Apetece-me estar ao teu lado
Olhar para ti e ver-te adormecer
Beijar-te o rosto e dizer-te boa noite
Apetece-me dar-te um mimo
Dois ou três
E deixar que a noite se dissolva
E com ela os teus problemas
Apetece-me abraçar-te 
E sentir o teu rosto colado ao meu
E no silêncio do teu abraço 
Sentir que ficas bem
Apetece-me perder-me contigo
E ao mesmo tempo encontrar-me junto a ti
De tal forma que o ritmo do meu coração seja o teu
Quero ir-me embora para junto de ti
Levo só o meu corpo sozinho
E a minha alma estridente
Contra o tempo apetece-me voar
Deixar esta cidade para trás
Ir ao teu encontro

quarta-feira, junho 02, 2021

Às vezes...
Agarro-me à madrugada
E escrevo
Deleito-me com as palavras
Como se fosse eu uma criança
Ando por caminhos desconhecidos
E escrevo, escrevo tudo o que vejo
Escrevo tudo o que sinto
Às vezes, não poucas...
Passo a noite a pensar em ti
E deixo que a madrugada me acolha
E sinto-me em mim 
Numa ternura noturna só minha
Onde o meu desafio é ver-te correr para os meus braços
Às vezes...
Culpo-me por não dormir
Tiras-me o sono sem dares conta
E o relógio vai andando, não pára
A noite passa e eu estou aqui
A caminhar pela cidade,
Pela noite,
Pelas estrelas,
Pelo teu corpo...
Onde vou sonhando acordado
Num silêncio intenso
Até que a noite se esvazie
E eu adormeça de madrugada
Às vezes, não poucas
Adormeço a pensar em ti
E é bom
É suave
E é assim que te amo

segunda-feira, maio 31, 2021

Este ruído dentro de mim que eu deixei repousar
Para sentir o teu perfume mais de perto
Deixou-me pensar aquilo que eu quero
E às vezes quero o repouso
Outras morro delicadamente a pensar em ti
Na verdade amo-te
E esta liberdade de te querer
Impede-me de pensar
Quero ir-me embora contigo
Só contigo
Viver o que não vivi
Entregar-me com uma matilha de beijos
Para ti, sou teu
E não és tu um sonho
Louco sou, quando te penso
Quando te beijo
Quando te amo
Agora que chegaste vejo-me sorrir
Não quero que vás
Quero que fiques por seres quem és
Não sei se para tudo isto fomos feitos
Mas por tudo isto quero ver-te
Tocar-te e sentir-te
Esquecer-me do mundo lá fora
E amar-te
Sim, amar-te como quem morde um beijo
E no silêncio do ruído
Quero repousar contigo os dias todos
Os meses e os anos
Até que fiquemos totalmente velhos

sexta-feira, maio 28, 2021

Depois da noite embrulho-me em pesadelos
Invisível na madrugada
Ainda que perdido, encontro-me em ti
Nada me pára, nada mais me dissolve
Assisto à espera deitado pela noite que passa
A manhã tem outro sabor
Muito mais doce... muito mais sóbrio
Onde a intensidade se revela sem pressa
Tem sabor a poema
Entao talvez me vá para não me ver
E então sei que te amo
E sei que me amas

quinta-feira, maio 13, 2021

Vem...
Vem e diz que me queres
Que me amas
Vem e não te vás
Vem para ficar comigo
Sem te ires embora 
Vem para dar uma boa notícia
Prometo ouvir-te em silêncio
Porque agora sei o que é não te ter
Vem...
Por favor vem e vamos os dois
Vamos ver o mar juntos
Vem abraçar-me
Vem buscar este abraço que é teu
Sem medo vem
Estou aqui sem saber de ti
Com desejo do teu amor
Vem e não vás embora
Porque eu sei o que o tempo leva
E não quero que ele te leve

quarta-feira, maio 12, 2021

Aqui me tens
Completo
Como sempre me desejaste
Custou mas conseguiste abrir o meu coração
Nunca te quis por um momento
Agora que estou aqui assim preciso de ti
Da minha miúda
Tenho fome da tua boca
Do teu corpo
Do teu amor
Tenho fome de ti
E estou faminto do teu coração quente
Temo o pior
E assim, quanto mais tarde me falas
Mais a solidão me persegue



Escrever é uma forma de estar vivo
Eu escrevo... Mas deito-me sem descanso
Sinto o som das tuas palavras cruas e frias
Aquelas que não quis ouvir
Agora ouço-as todos os dias
A todas as horas
Nem consigo virar costas ao tempo
Deixo-me levar pelas minhas próprias fraquezas
E já não são muitas
Pouco resta deste sonho
Senão a vontade de recomeçar contigo

segunda-feira, maio 10, 2021

Se todos os sonhos fossem meus
Talvez eu soubesse sonha-los
Vive-los e revive-los
Como se a noite fosse eterna e eu pudesse sonhar sem limites
Por demasiado tempo deixei os meus sonhos 
Numa pausa destruidora
Agora que conscientemente escrevo
Sinto-me sem ela
Como se tivesse deslizado 
Lembras-te daquele retrato?
Em que eu estava colado a ti
A minha barba que nunca a deixara crescer 
Tomou a forma do homem que amavas
Lembras-te? 
Quem me dera recuar no tempo
Dar-te o que agora sei que precisavas
Os corpos caem no chão todos os dias
O meu parece que não se levanta mais sem ti

quinta-feira, maio 06, 2021

Não vou sair daqui hoje
Não nesta noite
Em que todo o amor se foi
A tristeza aparece e não me abandona
Precisava de a sentir, de a ver, de a tocar
Mas não, esta noite não vou sair daqui
Deverei aguardar pela madrugada
E a dor que me leve para longe se quiser
Que me leve e não me traga
Que me deixe inanimado
Se ao menos pudesse dialogar com ela
Dizer-lhe que a amo e sentir-lhe os olhos
É que nesta noite não estou bem
Só uma tristeza aparece
Se fizesse o tempo recuar
Não me deixava isolar
Nao me permitia não viver e sonhar


terça-feira, dezembro 29, 2020

Quanto mais o tempo passa
Mais a necessidade de libertar-me das palavras 
Que de tanto se acumularem no meu peito
Deixam agora marcas quase visiveis do que não sai
Palavras não ditas são setas afiadas 
Que habitam em mim 
Como uma maldição desta gente que escreve
Desta gente que sofre
Há momentos que só a solidão consegue libertar-me
Como um veneno que sai da minha pele
Há dias em que o ar se torna irrespirável


sexta-feira, setembro 11, 2020

Já por vezes me desconheço
De facto já não sei quem sou
Talvez eu não seja eu
Ou quem sabe, seja somente uma imagem dos sonhos que fui tendo
E agora... não me reconheço em nenhum deles
Alguma coisa devo ser
Por agora não me reconheço
Uma coisa é certo, não quero desperdiçar nem mais um minuto a tentar alcançar sonhos que não são meus
Talvez se fossem, havia em mim algo em que eu me reconheceria
Não como humano, mas talvez como eu mesmo
Por agora parece que uma nuvem cinzenta ofusca todo um caminho percorrido
De facto tudo me parece enevoado
E eu estou aqui

quarta-feira, março 18, 2020

Acordo no escuro sem saber bem porquê. Não há barulho nenhum, nenhum sonho estranho que eu me lembre, nada. Só esta sensação de estar a cair e ser interrompido. Estiquei a mão à procura do telemóvel na mesa de cabeceira, carrego no botão. 3h23. Foda-se! Claro. Nunca são quatro da tarde, é sempre esta merda de hora.

Fico deitado uns segundos a olhar para o ecrã, como se ele tivesse alguma resposta. Não tem. Duas notificações sem sentido, um e-mail qualquer, uma app a dizer que devia ter meditado. Desligo. O quarto volta a ficar negro. Fecho os olhos outra vez, mudo de posição, virar para o outro lado. O corpo já acordou, a cabeça também. Se ficar aqui, vou só enrolar-me nos lençóis a pensar nas mesmas merdas de sempre.

Sento-me na cama. As costas protestam, faz 6 anos que não meto os pés no dojo as pernas doem-me, a necessidade extrema de treinar, o colchão conhece demasiado bem o molde do meu corpo. A casa está completamente calada. Não é só o silêncio da noite, é o silêncio deste ano, menos carros, menos gente, menos tudo. Agora toda a gente dorme em casa, ou finge. Os miúdos hoje não estão aqui, estão com a mãe. A ausência deles aumenta o eco, expande a tristeza.

Levanto-me devagar, caminho no escuro como quem já fez este percurso demasiadas vezes. Chego à cozinha, acendo a luz fraca do exaustor. A luz amarela desenha sombras feias na parede, realça a loiça que ficou a secar, o pano molhado esquecido na mesa, um íman no frigorífico com a foto deles.

Abro a torneira, encho um copo de água mas lembro-me logo que esta água do Montijo é uma merda, tem mais calcário que o deus me livre, encosto-me ao balcão enquanto bebo. A água está fria, escorrega pela garganta, não resolve nada. Penso que o mundo anda em pânico com medo de morrer e eu, às três  da manhã, tenho mais medo de continuar exatamente assim durante anos. Pouso o copo, passo a mão pela cara, suspiro fundo, como se isso ajudasse a empurrar o ar para dentro.

Vou para a sala. Acendo outra luz fraca. A sala à noite parece ainda maior, como se o silêncio afastasse os móveis uns dos outros. A mesa, o portátil fechado, o carregador enrolado, o caderno, uma caneta, um copo vazio do café da tarde. Trabalho aqui desde que começou esta palhaçada da pandemia. O que antes era sala agora é escritório, refeitório e consultório de crise existencial, tudo aqui na minha casa, a unica coisa que me mantém alegre é ver brinquedos espalhados por todo o lado, sinónimo de que os putos brincam, amo-os.

Sento-me no sofá. Fico uns segundos sem fazer nada, só a ouvir o prédio respirar: um cano, um passo lá em cima, um carro ao longe. Depois agarro o caderno para mim e abro-o. As páginas estão cheias de outras noites como esta. Poemas, frases, desabafos, tudo misturado. Vejo letras do início deste ano. É como folhear o meu historico clínico.

Pego na caneta. Não penso muito, começo a escrever porque sei que se não escrever fico só aqui sentado a aumentar a pressão no peito. Escrevo que acordo outra vez a meio da noite, que olho para o telemóvel, que vejo as notícias, que o mundo está à rasca com um vírus e eu continuo à rasca com a minha cabeça. Escrevo que toda a gente diz “vai passar” e que eu já ouvi essa merda antes, em outros contextos, e sei que às vezes passa mas não melhora – só se transforma noutra merda qualquer.

Penso no trabalho. Puta que os pariu, passo os dias a aturar incompetentes preso a videochamadas, tickets, programação de merda, mensagens, “podes ver isto com urgência?”, “é importante”, “é crítico”. Trabalho mais horas em casa do que antes, porque o computador está sempre ali, a meio metro de mim. Se respondo, sou competente. Se não respondo, sinto-me culpado pela incompetencia deles. Não há fronteira nenhuma entre “estar em casa” e “estar a trabalhar”. É tudo o mesmo sítio, a mesma cadeira, o mesmo cansaço.

Penso nos miúdos. Quando eles estão aqui, há barulho, desenhos, perguntas, discussões sobre filmes, gargalhadas, birras, pratos sujos, vida, vida é isso que existe quando eles estão aqui. Faço o pequeno-almoço, digo para lavarem as mãos dez vezes, tento ser pai e mãe porque a mãe não quer saber, tento não falhar demasiado. Quando não estão, como hoje, a casa parece um cenário depois de alguém desmontar a festa. As coisas estão arrumadas demais, o silêncio sobra.

E, como se não bastasse também apareces tu. Não preciso de fazer esforço. Basta estar acordado a esta hora que a tua memória vem sozinha. Já não é o choque dos anos anteriores, mas também não é distância. É uma presença difusa, uma sombra que se senta ao meu lado como se tivesse lugar marcado, já não te vejo há anos, mas quando envias mensagem a dizer que tens saudades... foda-se cai-me tudo. Vejo flashes rápidos, uma conversa, um café, o teu sorriso, um toque, um dia qualquer em que eu ainda acreditava que podiamos ter uma vida.

Fecho os olhos por um instante, deixo isso passar pelo corpo, abro de novo e escrevo mais uma linha qualquer sobre saudade, sobre algo que já acabou mas continua a morar aqui. Não preciso de ser bonito, só preciso de ser honesto. É isso que tento fazer não mentir no papel, pelo menos.

Pego no telemóvel, por impulso abro as notícias. Vejo números de infetados, de mortos, gráficos, especialistas em tudo, gente a gritar em caixas de comentários. Fico cansado ao fim de trinta segundos. Fecho. Abro o bloco de notas, leio uma frase qualquer que escrevi há meses, sobre o ar ficar irrespirável, sobre palavras acumuladas no peito, sobre não caber bem neste mundo. Dou um sorriso curto. Sou consistente na desgraça, pelo menos. 

Pouso o telemóvel na mesa, com o ecrã virado para baixo. Não quero ver mais nada.

Volto ao caderno. Escrevo que o mundo está com medo de morrer e eu tenho medo de continuar assim, que o tempo todo em casa está a dar demasiada oportunidade para ouvir a minha própria cabeça, que há dias em que tudo parece suportável e outros em que respirar parece trabalho a mais. Escrevo que sinto falta deles a correr pela casa, a chamar “papá” por tudo e por nada, e que isso, por mais cansativo que seja, ainda é a única coisa que me amarra à realidade de forma decente.

Fico alguns minutos calado depois de pousar a caneta. Sinto o corpo mais cansado do que quando me levantei da cama. Não há epifania, não há paz, não há luz divina. Há só uma pequena sensação de que aquilo que estava a rodar cá dentro já não está totalmente preso. Está em cima do papel, o que é ligeiramente menos sufocante.

Fecho o caderno e levanto-me, apago a luz da sala, volto para o quarto. Deito-me outra vez, no mesmo lado da cama de sempre. O colchão volta a encaixar o meu peso. Olho para o teto que não vejo, porque está escuro, mas sei exatamente como é. Penso que amanhã vou acordar, trabalhar, responder a e-mails, talvez ir ao supermercado, buscar os miúdos, ouvir mais notícias sobre números e curvas e merdas que eu não controlo.

segunda-feira, agosto 12, 2019

De dentro para fora

Existem diversas casas em Oiã, tantas que nem eu sei dizer: brancas, amarelas, verdes, vermelhas e de muitas outras cores. Copiam-se umas às outras e perdem-se de vista. Nenhuma, porém, é tão misteriosa como a casa mais antiga da vila.

Na verdade, trata-se de um pequeno palácio esquecido no tempo, abandonado e quase sem vida — quase, porque ainda se ouvem pássaros e se veem lindos gatos ronronantes a brincar nos jardins em volta. Mesmo assim, diz-se que um velho conde terá lá vivido há centenas de anos e que a casa se tornou assombrada. Contam-se histórias de uma misteriosa mulher, ou até de uma família inteira, que ali teria vivido.

Pouco se sabe sobre aquele palacete e a sua história; o que se soube perdeu-se no tempo. Havia algo que habitava a casa — e não eram só aranhas, baratas, ratos ou gatos cinzentos. Um fantasma vivia tranquilamente dentro daquelas paredes. Não se ouvia. Não era um fantasma qualquer, nem tinha um ar assustador como poderíamos pensar. Na realidade, nem se via: era uma espécie de homem invisível, ou lá como se chamam as coisas que a gente não vê. Também não era conde; de conde nada tinha. Mas era um fantasma, fazia as coisas que os fantasmas fazem e, curiosamente, tinha medo de fantasmas.

Todos os dias, pela manhã, depois de várias meias-horas a passear pelo jardim labiríntico, dirigia-se à biblioteca que ficava por baixo da casa, acessível apenas através de um mecanismo secreto no salão de música. Perto da janela havia um gancho junto a uma estrutura de ferro onde se prendia o cortinado. Três voltas à esquerda, duas à direita e uma ligeira pressão para dentro — e, automaticamente, no lado oposto, junto ao chão, abria-se uma escada em caracol.

Foram poucos os proprietários que conheceram a sua existência, ao contrário desse ser invisível que já dominava a engenhoca desde o início da construção. A escada de madeira dava acesso a uma antiga biblioteca, tão antiga quanto ele, tão antiga quanto as paredes altas que guardavam os livros em estantes de carvalho escurecido, onde o cheiro do papel se confundia com o da madeira. O teto erguia dez cúpulas, minuciosamente decoradas com afrescos; junto às estantes, longos escadotes de madeira. Os livros preenchiam as paredes — pequenos, grandes, milhares — cuidadosamente catalogados e numerados.

Havia livros de todos os tipos e tamanhos: grandes livros de culinária com capas duras e títulos em letras largas; enciclopédias de saúde em vários volumes, com capas de couro e letras douradas; aventuras e romances; poesia em grossas capas vermelhas, azuis e pretas; crimes inventados, anedotas e adivinhas; livros para crianças e publicações de várias épocas.

No centro da biblioteca, um enorme cadeirão de veludo verde marcava território. Ao lado, uma pequena mesa de madeira ornamentada lembrava a Floresta Negra. Se as manhãs eram passadas no jardim, o resto do dia era ali, na companhia de milhões de páginas. Lia e relia. Eram a sua companhia; juntos faziam uma ótima sociedade. Ler trazia-o de volta à vida. Lia um parágrafo, cerrava os olhos e visualizava: as pessoas viam-no e falavam-lhe; ele podia tocar os objetos e sentir; podia voltar a sentir todos os sentimentos.

Toda a sua existência ganhava sentido — como se renascesse das palavras e vivesse aquelas experiências vezes sem conta, as vezes que quisesse. Fascinou-se por Júlio Verne; e havia outros que, como ele, não lhe limitavam a imaginação.

Durante centenas de anos, ele leu e releu cada parágrafo, cada página. Mas, naquele dia, depois de observar os pássaros que voavam sobre os ratos que fugiam dos gatos, rodou o engenho: três voltas à esquerda, duas à direita, leve pressão — e desceu a escadaria. Num ápice, tocava as lombadas como se as pudesse ler num só instante, letra a letra, palavra a palavra. Subiu um escadote, e outro, e mais outro até à última estante do último andar, lá em cima, perto do teto.

Reparou que, ao lado do livro número novecentos e trinta e quatro, estava um volume sem numeração. Um livro desconhecido. Não compreendia por que não estava numerado. Aproximou-se e leu o título: Vida. Pensou: “Ora esta! Por que estava um pouco mais atrás? E por que nunca o teria lido nem sequer notado que aqui estava?”. Passou a mão pela lombada e retirou-o devagar, como se manobrasse algo frágil.

O livro tinha capa fina e muito macia — um veludo delicado de cor suave. Exalava um cheiro diferente de todos os outros: doce perfume a jasmim misturado com um leve odor a caramelo. Olhou para o livro — e o livro olhou-o de volta, como se o chamasse. Pela primeira vez, não sabia se escolhera o livro ou se o livro o escolhera a ele.

Não o abriu. Apenas o observou, curioso como uma criança. Tirou-lhe as medidas com os olhos, aspirou-lhe o cheiro, deixou que os dedos viajassem pelo título áspero cravado na capa. Que estariam ali escrito? Que viagem era esta que ainda não fizera? Desceu ao solo e foi até ao cadeirão. Sentou-se. Pousou o livro na pequena mesa.

Noutras circunstâncias estaria impaciente; agora, não. Apenas curioso: como pudera um livro escapar-lhe? Há quanto tempo estaria ali? Quem o teria trazido? Questões talvez sem resposta — e que talvez nem precisassem de resposta.

Pegou no livro, contemplou uma vez mais a textura suave e o título Vida, que brilhava diante dos seus olhos. Abriu a primeira página — e nada. Vazio. Folheou a segunda, a terceira e todas as que se seguiram — nada: nem uma única letra, nem uma palavra. Confuso, fechou o livro. Teve a sensação de que a capa o fitava. Pousou-o na mesa. No momento em que se levantava, o livro abriu-se sozinho: letras brotavam na primeira página como tinta numa tela mágica.

“Mas que magia é esta?”, pensou. Lera livros de magia, feitiços e outros; nunca um livro lhe quebrara a barreira do mundo físico. Depois de algum tempo, as letras tornaram-se nítidas e podia ler-se:

De dentro para fora
De fora para dentro
De dentro tudo trarás
De fora nada levarás

Ainda mais intrigado, aproximou-se. As palavras formavam-se letra a letra e, depois de lidas no pensamento, desapareciam sem deixar rasto — linha após linha, parágrafo após parágrafo. Isso não o impediu de continuar. Leu as páginas seguintes até começar a sentir o peso do seu corpo. As pernas, antes leves e sem forma, eram agora pernas de menino; os braços, de carne e osso; as mãos pequenas prendiam-se às da mãe e do pai.

Ouvia o riso das crianças e misturava-se com elas. Brincava; a sua voz ecoava como as vozes dos outros meninos. Era o rapaz que ficara perdido no tempo. Brincou e brincou com os amigos; construiu cavalos de batalha em palha, espadas de madeira, casas nas árvores — todas as brincadeiras do seu tempo.

Chegou a uma página em que o corpo mudou: jovem adulto, lutava para não sentir o calor intenso do fogo que lhe lembrava a perda do pai e da mãe. Chorou. Chorou tanto que parou de ler; soluçava; as lágrimas corriam-lhe pela face. No meio da multidão, tentava salvar vidas. Um adulto a quem fora revelada a dor da perda — e, de dentro para fora, era a única coisa que podia ser.

Parágrafo após parágrafo, voltou a sentir a alegria de viver: nasceu-lhe um filho; depois, uma filha; e outro filho; e mais outro. Era feliz. A sua companheira era a mulher que amava. De fora para dentro, nada o preenchia; eram o amor e a fraternidade da família que lhe davam conforto.

A pele macia ganhou rugas. Envelhecia e lia — como se a vida ecoasse naquelas páginas e, agora, o mundo fizesse sentido. Os netos corriam pela casa, desarrumavam-lhe os livros, arrancavam flores do jardim e puxavam o rabo aos gatos; mas também lhe tocavam as mãos e ele podia sentir, brincar e rir com eles. E lembrou-se, uma vez mais, de que a sua vida era feliz.

Muito velho, sentiu-se deitado numa cama, rodeado pelos filhos e netos. Compreendeu: de fora nada levaria para o grande desconhecido; levaria, sim, a beleza interior que experienciara em vida. Prestes a terminar a última palavra da última página, fechou os olhos. O corpo estremeceu uma última vez. Pousou o livro mágico na velha mesa, levantou-se — e dissolveu-se nos últimos raios de luz da tarde.

terça-feira, julho 23, 2019

Por vezes quando o tempo deixa, vou-me embora
Como se dissesse adeus a uma criança
Desse modo, em que não estou
Fecham-se os meus olhos em sonhos
E é tudo. E é nada.
Como um vazio que se abre para o mundo
Posso dizer que nasço de novo
Ou dizer que já não sou o mesmo que a vida esconde
Já não sou eu senão o sonho
Talvez seja uma melancolia
Mas que certeza eu tenho que não é um sonho?
Onde não quero dormir
E por amor
Talvez eu fosse

quarta-feira, junho 19, 2019

Durante a noite
Também há quem precise de um abraço
Embora a madrugada seja lenta
Também há nela quem não encontre a lua

segunda-feira, junho 17, 2019

Às vezes toco nas palavras tingidas no papel
Depois de batidas na máquina
Sinto-as impressas como se fossem mais que palavras
Sentimentos marcados
Sabes... às vezes certas letras rasgam o papel
Perfurando-o de um lado ao outro
Deixam pequenos buracos por onde a luz passa
Não sei já se é a emoção que trago comigo ao bater nas teclas
Se é apenas o mecanismo que bate no papel possa estar estragado
Eu acho que é ela, esta máquina velha que já me vai conhecendo
Deixa-se levar pelo ritmo do que sinto
Eu acho que ela se funde em mim
Não sei...
Tenho impressão que ela me conhece
Que de qualquer forma já me desvendou e sabe quem sou
Sabe o que penso
Sabe que tenho fome de ti
Pois o bater ritmado das letras
Revela-se morno, quente ou frio, forte
Lento e fraturado
Sim esta máquina tem qualquer coisa
Qualquer feitiço que me conhece

segunda-feira, abril 22, 2019

Os velhos

Naquele verão ela não veio, nem naquele nem nos outros que se seguiram. Passaram invernos e todas as estações do tempo, tantas que quase caíram em esquecimento. Terá sido um dia após o outro, uma semana após outra ou talvez ano após ano, até que as canções passaram de moda, como que, paradas num tempo que já não existia, mas as músicas deles não tinham parado, pelo menos para eles. Por vezes ele recordava no mesmo café de sempre, escutando com o ouvido da memória a canção Woman de John Lennon, outras subia-lhe o ritmo dos Rolling Stones, preenchiam-no por momentos com Wild Horses. Foi assim durante trinta e cinco anos. – Que fazes aqui? – Pergunta o velho sem medo. – Vim ver-te. – Responde ela. – Foda-se! Agora?! – Não me fales assim, nunca é tarde para reparar os nossos erros. Com os olhos postos no chão o velho diz: – Erros? Já não sei do que falas. Estás velha! Mas bonita. – Tu também, ainda tens os mesmos olhos. Vezes sem conta o velho ensaiava o discurso, falava sozinho como se ela ali estivesse para o ouvir. Sentava-se à janela e observava o tempo passar, imaginava as mãos dela nas suas e lembrava o toque que o deixava calmo. Passaram os Beatles, os The Doors e os Xutos, como se fossem composições numa estação de rádio ou a banda sonora da sua vida. Trim trim três da manhã, o telefone acorda o velho, meio sonâmbulo, atende com uma voz amarfanhada: - Estou? - João? És tu? - Sim! Quem fala? - Sou eu, a Maria. Não sabia se havia de rir ou chorar, nunca fizera tanto sentido a nota musical que marcara a presença do silêncio nos livros de música, silêncio, um velho e companheiro demasiado presente. - João estás aí? – Repetiu ela - Sim estou, é muito tarde. – A voz arrastada não lhe permitia falar. - Preciso de ti, o meu marido morreu há dois meses, sinto-me triste João, preciso de ti. – Disse ela como uma criança dentro de uma mulher. Ele desligou o telefone, pousou-o devagar na cabeceira, como se quisesse prolongar ainda mais a agonia de um ato de coragem. Adormecera como se não quisesse acordar. Tornara-se vulgar o cheiro a velho, ao fim de algum tempo até os espelhos deixaram de refletir as imagens dos dias que passam, talvez por causa disso já não se via ao espelho tantas vezes como os jovens imaturos. E as sopas, sempre as mesmas, deslavadas, o arroz, sempre o mesmo e também as mesmas batatas nos mesmos pratos brancos amarelados, assim como os mesmos sapatos e as camisas brancas ou azuis. Naquele dia todas as camisas pareciam diferentes e os sapatos quase novos e engraxados, até o café tinha um cheiro diferente, toda a solidão era um só pensamento alastrado durante dias e anos, impresso nas mãos dum corpo enrugado. A manhã era diferente, sobretudo cinzenta mas como se o sol brilhasse saiu à rua e a voz dela acompanhou-o, ouvia-a num murmúrio suave, confiscado entre o sonho e o sono. Fez o mesmo trajeto, passava à porta da oficina do António, o cheiro a gasolina e óleo fundia-se com o cheiro a pão da pastelaria ao lado. Ouvia Time is on my side dos Rolling Stones no seu leitor de mp3 que o neto lhe ofereceu num dos últimos aniversários, que ironia, ao mesmo tempo a voz dela no interior da sua cabeça, não sabia se estava contente por o marido ter batido as botas ou por valentia lhe ter desligado o telefone na cara, quebrando assim anos de solidão intensa. O velho estava diferente, parecia uma outra vida, apanhara o autocarro e queria almoçar peixe assado em Lisboa, sentar-se num restaurante qualquer, beber um copo de vinho e andar, andar por aí como andam os miúdos novos, como se não tivesse mais nada para fazer, como se os seus sapatos fossem novos e necessitassem de ser acomodados aos pés. Caminhava distraído pela cidade, os sons eram todos diferentes, os cheiros todos extraordinários e as paredes, essas já não se moviam contra ele num apertado gesto constrito, o coração já não fintava as ruas nem se mascarava perante os olhos quentes e frios das pessoas, em vez disso misturava-se com a vida dos que por ele passavam naquele dia, onde todos saíram à rua para lhe dar as boas vindas. De regresso a casa, mãos nos bolsos, a descontração constante de um homem apaixonado mas visivelmente cansado, reparou ao longe abeirada na sua porta, o semblante de uma mulher, ajeitou os óculos e olhou-a, a mesma pele branca e a mesma face rosada que deixava transparecer suavemente as veias do queixo, aquelas veias que ele tanto conhecia, que ele tanto beijara. O cabelo dourado, longo e liso caído sob os ombros. Ela esperava-o, como se aguardasse o infinito, atenta à rua como uma adolescente à espera de um beijo prolongadamente eterno, até que o viu. Numa camara lenta de sentidos os olhos cruzaram-se como se cruzam todos os olhos gémeos, sem preconceito fixando as testas, os narizes, as bocas, os lábios, as rugas, os corpos e o tempo num só momento. Não sei quanto tempo deixou o tempo que ficassem naquele estado de embriaguez, mas a língua do velho cujos discursos treinara durante anos vezes sem conta ficara presa, a escassos metros, escapando-lhe apenas da boca um soluço, seguido de outro, uma lágrima e depois outra, talvez as suficientes para levar as mãos à cara. Sim, os homens também choram e os velhos por vezes lacrimejam escondidos, como se a vergonha lhes ocupasse o lugar da humanidade, sem temor ela alcançava-o num caminhar desesperado, como se toda a eternidade dependesse daqueles dois velhos miúdos, e o abraço foi terno e apertado, cabia dentro dele todo o universo onde as faces se encontravam e as lágrimas se misturavam numa alquimia perfeita, as mãos trémulas percorriam as costas, os braços a cara e o calor era morno, humano, demasiado humano, fazendo crer que os velhos também amam, também sentem, também vivem. 

terça-feira, março 26, 2019

No preâmbulo da noite
Encontro-me sem me querer encontrar
Sob a ferocidade do mundo
Esgota-se a tristeza e faz-se noite
A poesia comunica
Como uma resposta kármica
Apresenta-se a ela própria
E aos outros que não querem vê-la
Mas quando não existe mais nada
Quando não há coisa nenhuma
Então surge o verbo
Como uma sentença premeditada
Como que inatingível e perverso
Numa alquimia pandemica em forma de palavra
Que representa esta comunicação vibrada
E então num breve diálogo secreto
Como se fechasse os olhos
E mesmo assim, toda a nitidez do mundo
Surgisse perante a negra e escura luz interior
Como se de um intervalo no tempo se tratasse
E a grotesca solidão de estar só se revelasse
Por entre a humanidade
Que é certamente mais gente do que eu
E eu certamente em mim mantenho as dimensões
Ainda que ilimitadas do universo
Como um eterno epílogo intransigente

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Permito-me chorar
Na esfera do dia-a-dia
No descalabro da vida virtual
Permito-me chorar por alguém que não conheço
Por alguém que morreu
Por aquela menina assassinada pelo pai
Encontrada numa mala de um carro
Porquê? Pergunto-me!
E porque sou humano
Então eu choro sem resposta
E comovido porque não entendo
Abate-se em mim uma tristeza
Uma estranha tristeza do mundo
E as lágrimas não se contêm
Escorrem simplesmente
Deixo-as cair livres
E não me importo se me vêem ou não vêem
Se me falam ou vêem falar
Há lágrimas que não devem de ser caladas
Como pode o mundo ser assim cruel?
Uma escuridão que nos rodeia
Triste é quando morre alguém
Mas quando uma criança morre...
Se ao coração cabe o amor
Então à humanidade cabe saber se é capaz
Enquanto esperamos por lentas respostas
As lágrimas podem cair
Não é proibido chorar quando se é humano
Mas com toda a triste demência que me rodeia
Talvez eu não seja humano
Talvez eu seja então de outro planeta
Porque não cabe em mim tanta tristeza

quarta-feira, janeiro 30, 2019

O que faz de um poema um poema
Senão o ritmo da vida
Tal como a água flui
E o vento não descansa
Também o ritmo da alma não tem torpor
E a frase dita e não dita
Molda o poema
Refaz uma vida
Conserta o espírito
Reconstroi e alimenta
Quanto à eternidade
Descreve-a...
E engorda-se dela
Num poema, todos os corpos são palavras
Todas as formas são verbos
Ora nascem
Ora crescem
Morrem e ressuscitam
É o poema a ser um poema
No seu próprio ritmo
De braços abertos para abraçar
Sendo ele um arquitecto
Ele arquitecta-se
Refaz-se
O que é um poema sem ser um poema?
Uma criança sem ser uma criança?
Uma mulher sem ser uma mulher?
Um homem sem ser um homem?
O que somos senão poemas
Senão caminhos válidos para as palavras
Que cabem em nós
Que nos vivem
Que nos somam
Na metafisica da vida
Do ser humano
Do amor
O poema é nada mais do que a doutrina da essência das coisas

terça-feira, janeiro 29, 2019

Lá vai ele, onde não vai ninguém
Qual engate desengatado
Miserável
Numa corrida contra o tempo
Numa penetração vazia contra o nada
E a solidão lá está
Quieta num dia-a-dia cada vez mais novo
Mais recente
Mais só...
E lá vai ela também
Como que se buscasse algo
Talvez o infinito
Num dia em que o dia não passou da noite
E a noite foi o dia todo por ele inteiro
Engolido na solvência da madrugada
Da manhã, da noite
E eles encontram-se num vazio que é só deles
Numa transparência que é só deles
Numa dor que é só deles
Em uma solidão que não se vê
Mas que se sente
Que se impôe
E que morre dentro um do outro

quarta-feira, janeiro 09, 2019

Matei um homem
Atei-lhe os pés
As mãos
Tapei-lhe a cara
E sufoquei-o
Com o manto dos objetos
Com a vida
Esqueci-me dele no tempo
Diria que o matei bem morto
Depois engoli-o e escondi-lhe a alma
E o tempo passou
O tempo passa sempre
Não pára...
Nunca pára
Quando me recordo da cara dele
Sorriso eterno
Quando me lembro dele, era apenas um cego que queria ver
Um miúdo de vinte anos faminto de vida
E por vezes na vida não se vive
Sobrevive-se...
Complica-se...
Morre-se lentamente, como quem se mata
Num suicídio agonizante
Morre lentamente quem não faz o que ama
Quem não chora
Quem não ri
Matei sim...
Quem sabe asfixiei um sonho de criança?
Mas não fui eu!
Não!
Recuso-me a ser um criminoso, um suicida...
Pois no mundo há sempre quem culpar
Para mim, foi a sempre alegre e cobarde sociedade
Fétida e imoral...
E agora o medo...
O medo de morrer duas vezes
Um medo que se assume em contrabando
Que se move fugaz
Que se autoproclama
Então eu penso: Será que matei aquele homem?
Será que me enterrei
Será que...
Será? - Pergunta o menino.
Aquele menino homem, observador, que me acompanha
E eu?
E eu? Que respondo?
Eu não sei responder

sexta-feira, dezembro 28, 2018

Nos meandros da vida
Entre canetas e papeis
Computadores estúpidos
Numa estranha mania inteligentes
Inanimados e obscuros
Entre empresas multinacionais
A vida avança e não pára
Relaciono-me com as palavras
Bato-as na máquina de escrever
Nas teclas fulminantes, canetas ou lápis HB
Atravesso palavras
E sinto-as crescer
Renascem no meu ego
Deixo-as expostas para as deixar ir
Sou apenas e unicamente um poeta
Que colecciona sentimentos que sente
Numa linguagem nua em que se vê crescer
E na palpitação da vida
Não sou nada
Sou só um transitório corpo que avança
E envelhece
E ama


sexta-feira, novembro 30, 2018

Acordei às três e quarenta e dois, outra vez...

O relógio brilhava no escuro como se me estivesse a gozar:
“Olha ele, o poeta da merda, mais uma noite sem dormir.”

Levantei-me devagar, aquele peso de quem já viveu vidas a mais dentro da mesma pele. A casa estava silenciosa, os miúdos a dormir, o mundo a fazer de conta que é normal. Fui à cozinha, abri o frigorífico, fechei o frigorífico. Nem fome, nem sede. Só aquele buraco no peito que já devia pagar renda.

Sentei-me à mesa com o caderno, aqueles cadernos de capa preta, compro-os as quantidades. A velha história.
Caneta, papel, e um tipo de quarenta e tal anos que ainda escreve como se tivesse vinte e estivesse prestes a explodir de amor e de medo.

“Se eu não fosse seria um sinónimo de coisa nenhuma”, escrevi num poema recente. E parei.
Conhecia aquela voz. Era minha, mas de outro tempo.
Tanta folha branca rasgada, tanta madrugada que cheira a nada e a ti ao mesmo tempo.

Tu.
Caralho, tu outra vez.

Não estávamos juntos há anos, mas continuavas a aparecer na mesma hora: entre as três e as quatro, quando o silêncio da casa fica grosso como fumo de cigarro barato e o corpo decide lembrar-se que tem coração.
Um coração burro, insistente, desses que não lê o contrato da vida e assina tudo o que aparece.

Agarrei na caneta com mais força.
Senti o velho ritual: primeiro vem a saudade, depois vem a raiva, depois vem a poesia a tentar salvar o que resta.

— Vai passar — murmurou uma parte de mim.
Mas eu conheço bem essa frase.
“Vai passar e quando passar vou-me embora”, escrevi no caderno.
A merda é que passou, eu continuei aqui e nunca fui embora de lado nenhum.
Fiquei preso aqui, na mesma pele, na mesma ausência.

Há uma suavidade que permanece nos lugares onde a luz não chega.
Tu eras essa suavidade, foda-se. O problema é que ao mesmo tempo eras a ferida aberta debaixo dela.

Lembrei-me das noites em que eu dizia que só queria um abraço, um beijo, qualquer coisa, e vinha em troca um silêncio cheio de medos teus. Essa tua parte racional mais neutra, faz com que decides mais com a cabeça do que com o coração, isso sempre me pareceu um crime perfeito: matava-me devagar, sem deixar provas.

Encostei as costas na cadeira, olhei para o teto como se Deus tivesse lá deixado um post-it esquecido aqui por cima.

— O que é que eu ainda estou aqui a fazer?

A resposta veio como sempre: escrever.
Escrever é a forma que arranjei de não morrer afogado naquilo que sinto.
Escrevo para lembrar que vivi. Para lembrar que amei como um idiota.
Escrevo porque quando não escrevo, a tristeza cresce como erva daninha na cabeça.

Lembrei-me de quando decidi deixar de comer carne porque percebi que o verdadeiro animal era eu.
Continuo a pensar o mesmo.
Continuo a achar que a humanidade é um erro ortográfico que alguém se esqueceu de corrigir.
A única coisa que presta, às vezes, é isto: um tipo sozinho à mesa, a sangrar palavras para um caderno, enquanto toda a gente finge que está tudo bem.

Pensei no miúdo que fui, naquele puto de quinze anos que te beijou no elevador, faminto de vida que tu amaste sem filtros.
Matei esse cabrão algures no caminho, asfixiei-o devagar com empregos, contas, obrigações, responsabilidades, reuniões de merda, senhas retiradas em repartições públicas e conversas vazias sobre o tempo.

Mas há noites... há noites fodidas, como esta, em que ele volta.

Volta quando escrevo “Deste modo eu penso em ti como se a complexidade da vida estivesse em descrever-te”.
Volta quando confesso que ainda tenho fome da tua boca, mesmo que já só exista na memória.

É ridículo.
Um homem feito, pai, trabalhador, a falar sozinho na cozinha com um fantasma.
Mas é isso ou enlouquecer de vez.

A caneta recomeçou a mexer-se sozinha:

Numa madrugada já rasgada pelo tempo
Onde o silêncio se confunde com o ar
Eu noturno divago sobre mim

“Numa madrugada já rasgada pelo tempo
Onde o silêncio se confunde com o ar, eu noturno divago sobre mim”

Li em voz baixa.
Soube-me honesto.
Soube-me cruel.
Soube-me pouco.

— Foda-se, isto não chega.

Queria gritar mais alto. Queria escrever como quem parte um copo contra a parede. Queria prender-te ao papel de vez, como quem agrafa um aviso na porta do Universo: “AQUI MORREU UM AMOR DO CARALHO! DO CARALHO”

Mas a verdade é que eu não sei matar-te.
Nunca soube.

O máximo que consigo é isto: transformar-te em poema, em prosa torta, em capítulo de livro que ninguém sabe se vai ficar pronto. Há quem chame a isto arte. Eu chamo sobrevivência, a minha sobrevivência.

Acendi a luz fraca da sala, aquela que não acorda ninguém.
Olhei em volta.
A casa, as coisas, os objetos, o sofá onde às vezes me deito a pensar que a vida podia ter sido outra, se eu tivesse sido menos medroso, ou se tu não tivesses sido sempre tão racional.

Eu, tu, as probabilidades falhadas.
Podíamos ter sido tudo.
Fomos quase.
E o “quase” é uma palavra fodida: pesa mais do que o “nunca”.

Voltei ao caderno.

Escrevi:

“E escrevo, escrevo tudo o que vejo
Escrevo tudo o que sinto”

Olhei para a frase e percebi que já a conhecia, de outra madrugada, de outro ano, de outro eu.

Estava tudo ligado: 2003, 2005, 2010, 2015, hoje.
O mesmo homem, em versões diferentes, a bater nas mesmas paredes invisíveis.

Ri-me sozinho.

— No fim ficam sempre as palavras e uma mão cheia de ilusões. Ou então não.

Fechei o caderno.
O mundo lá fora começava a ficar claro devagarinho, aquele cinzento sujo antes do dia decidir que cor vai usar.

Levantei-me da mesa com a sensação estranha de que, por hoje, tinha sobrevivido.
Não tinha resolvido merda nenhuma: tu continuavas longe, a humanidade continuava uma desgraça, e o miúdo de vinte anos continuava morto algures debaixo das contas por pagar.

Mas eu ainda escrevia.
Enquanto escrevo, ainda estou vivo.

Fui ao quarto.
Olhei para os miúdos a dormir.
Ali estava a única parte da vida que eu não conseguia transformar em poema porque é maior do que qualquer verso.

— Um filho nunca é nosso — pensei. — Mas eles são o mais perto que já estive de Deus.

Tapei-os melhor, respirei fundo.

A saudade de ti continuava cá, mordendo-me o peito.
Mas, pela primeira vez naquela noite, ela cabia dentro de uma frase.

E isso, para mim, já era uma pequena vitória. Uma daquelas vitórias silenciosas que ninguém vê, mas que salvam um homem de se afundar de vez.

Voltei para a cama.
O relógio marcava 5h17.

Talvez dormisse.
Talvez não.
Uma coisa é certa, amanhã de madrugada, se a saudade viesse outra vez, eu estava aqui.

Papel e caneta e este coração que vai sobrevivendo

quarta-feira, novembro 21, 2018

Sabes que me encontro longe?
À distância de uma madrugada exausta
Consumida pelo fogo da noite
Nos meus ombros, um casaco envelhecido
Observo o tempo que passa devagar
Está frio e escondo a cara
Procuro a liberdade neste papel branco
Se a encontrar mantenho-a em cativeiro
Sob as correntes apertadas do mundo
Os olhos fechados, discutem com a escuridão
Rasgam a noite que há em mim em mil pedaços
Confundem-se ou fundem-se
Com o apagão nocturno
Não, não é Setembro
É apenas uma noite familiar
Onde caio e me levanto
Como uma maldição
Não preciso de ir buscar inspiração a lado algum
As palavras vêm ter comigo
Crescem aqui dentro
Um fardo pesado que cicatriza lentamente
Por vezes finjo que passa
Outras descaio-me nas palavras
Como se escorregasse na chuva
Ou se caísse no chão coberto de destroços de guerra
Sabes, longe não é assim tão longe
Volto para trás e avanço
Hipnotizo o tempo
E faço dele o meu aliado
Não quebro a espada
Não desfaço a alma
Não parto nada que não esteja partido
Olho a noite a passar
Vejo-a escrita
As minhas palavras movem-se silenciosas
Como um navio que tenta alcançar uma terra distante
Uma paz utópica
Uma feitiçaria
Um qualquer poder nocturno

quinta-feira, novembro 15, 2018

Se o som das palavras que me amarram
Pudesse alguma vez soltar-se
Eu descreveria com a minha voz
Uma dor que já não dói
Falava em voz alta e de cabeça erguida
E então ouviam-se as palavras
Ouviam-se histórias contadas aos cantos
De quem ama como ama o amor
De quem sofre lentamente
Mesmo que me fizesse chorar
Pois um homem também chora
Também se entristece
Também sente quando alguém não está presente
Se as palavras se soltassem
Eu voava sem ter medo da altura

quarta-feira, outubro 24, 2018

No meio da noite
Sem qualquer violência
O silencio da presença que me envolve
Tudo o que existe e nada mais
Meditar o verdadeiro caminho
Nada mais existe senão a pureza
Senão a confluência da existência
Num único estado puro de liberdade

segunda-feira, outubro 22, 2018

Quando estou em silêncio
Consigo sentir as sementes
O jardim torna-se na floresta verdejante
E os animais batizam o silêncio com as suas vozes
Então eu na minha humilde mente
Sou também a semente
E sou um membro da floresta

terça-feira, outubro 02, 2018

sexta-feira, agosto 31, 2018

Se eu não fosse
Seria um sinónimo de coisa nenhuma
Então, também eu não teria acontecido
Não seria
Seria puramente nada
Mas seria um vazio implorante de tudo
Eu seria um vazio chato e reclamante
Mas nunca me perderia
Eu seria o silêncio
Seria a semente do acordar
Que não adormecia
Mas que queria florescer
Ah... Se eu não fosse nada
E o mundo fosse tudo?
Será que eu queria ser?
Não...
Não queria todos os dias o ritual do mundo
E aquela saudade do vazio, do nada
Iria  certamente aborrecer-me
E transformar-me no tudo que sou

quarta-feira, agosto 22, 2018

Dias de mar
Dias de terra
Nós de cabeça baixa
A olhar para o nada
Sozinhos com pouco no bolso
Uma casa desarrumada
Os amigos na vida
E o que dela resta
Consome-se o tempo e o mundo
Espalha-se lentamente a eutanásia pelas ruas da cidade
Onde ninguém já brinca
Onde não se vêem as crianças jogar
Só os ateus cabisbaixos nos seus telemoveis
Desfeitos de vaidade e parvoíce
Jazem velhos e apodrecidos
Numa rua de merda
Onde ninguém se fala
Onde ninguém se conhece
E todos se desfazem lentamente

quinta-feira, agosto 16, 2018

Sem origem o desassossego
Vai e volta como as ondas do mar
Um vai e vem de intrusão
E como se não bastasse não estás aqui
Nem vais estar
Como se não bastasse
Não há sossego
Mas vive-se
Respira-se o mar que continua de azul turquesa
Vive-se a cidade de várias cores
E o desafio está nas palavras
Que por existirem não sossegam
Não morrem...
Deslumbram-me...
E o relógio não pára
Não morre
Passa o ponteiro e não se vê o tempo
Não volta
Mais um poeta que morre 
Mais outro que nasce
Mais palavras
Mais e mais sentidos
E o sangue que escorre
Que coagula
Que vive
E o desassossego que abafa o mundo
Perde a fome de vez em quando
No seu próprio lamento

segunda-feira, agosto 06, 2018

Lamento para mim ter perdido aquele sabor
O sabor de saber amar
Talvez não consiga amar já
É a definição de tristeza pura
Leva-me aonde não fui
Leva-me à ternura desse saber
Dessa moda intemporal
Não quero o espaço do vazio
Não quero as palavras não escritas
Não ditas
Talvez o sabor tenha ficado preso no tempo
Congelado num continente distante
A minha cara parece não mostrar o que sinto
Mas não...
Os meus olhos não me mentem
Apenas me assustam
E desesperam
Caem no infinito
Desmontam-se em peças
Abrigam-se ocultos

Vive!
Vive mais do que ontem!
Mas vive
Sem amanhã
Não deixes que ninguém te veja longe de ti
Das tuas palavras
Das tuas aspirações
Dos teus desejos
Dos teus sonhos
E sonha, sonha acordado e a dormir
Sonha o teu sonho
Mostra-te ao futuro que é agora
E sê tu próprio a poesia que pensas sonhar
Aquela que preenche o vazio com a emoção
Aquela poesia que constrói e destrói mundos
Que te faz a ser tu próprio
Entra em ti como gostarias de ser recebido
Dá ao teu dia uma hipótese única de ser um bom dia
Não duvides de ti nem um dia
Um dia preenchido pela dúvida será um dia a menos na tua vida
Abraça o mar todos os dias
Abraça-o, nem que seja usando a tua imaginação
Que importa ter se não ser?
Que importa pensar senão sentir
Sente!
Acima de tudo sente...

sexta-feira, agosto 03, 2018

Já não é a poesia
Nem as palavras que se se apresentam aqui
Nem a tinta da máquina de escrever
Nem o papel branco
Nem sequer o fugaz computador anarquista
Talvez seja a experiência da vida
A barba branca
E as rugas nos olhos
Sim talvez seja a vida
É o tempo
E a aborrecida tarde de verão
Em que cai a saudade
E onde as palavras não caem
Não cabem
Nem sequer chegam a tocar a solidão
Sobrevive-se com força
Como se recomeçasse do infinito
E ainda assim foram criadas por mim estas palavras
Não sei como mas sei porquê
Se for poesia então não morre
Não morro

sexta-feira, junho 29, 2018

Escrevo isto a que chamam poesia
Não porque queira ou porque me digam para escrever
Mas simplesmente quando vivo um momento
Preciso de o registar de alguma forma
As palavras querem sair
Dos meus poros
Dos meus olhos
Da minha boca
E descem sobre mim sob forma de rabiscos
Eu preciso de uma forma de recordar
Então eu escrevo com as palavras que conheço
Para recordar, para viver
Chamem-lhe o que quiserem, poesia, prosa, texto, rabiscos
Eu preferia não lhe dar um nome
O que for é
Só quero descrever aqueles momentos
Aquela fase da vida que nunca mais se vai repetir
Para a recordar
Pode ser dentro de um dia, um mês, dez anos, não sei
Recordar aquele momento, aquela história que eu vivi
Aquele sentimento fica ali descrito no tempo
Durante anos
Como se ficasse congelado no espaço e no tempo
Como se fosse uma memória que eu pudesse aceder
Não mudo uma palavra no que escrevo
Sempre foi a minha regra
Não mudo uma única palavra
O que sinto sai escrito assim
Quando eu leio o que escrevo
Eu descongelo aquele momento só para mim no silêncio do meu ser
E vivo tudo outra vez com a mesma intensidade
Recordando só para mim aquele tempo
Porque é só meu
As palavras são só minhas
Muito minhas

quinta-feira, abril 05, 2018

quarta-feira, março 28, 2018

Se te amar
Com certeza será verdade
Pois não saberei olhar-te de outra forma
E se te amar
Serei teu
Assim como a água é da terra
E na minha vida vou querer-te
Todos os dias
Porque se te amar
Serei completo
E os dias contigo serão eternos
Com todas as horas e minutos
Se te amar
Vou dizer-te baixinho
Para que entendas todo o meu ser
E me escutes no teu interior

sexta-feira, março 23, 2018

Sem pressa desenho-te
Percorro com os meus dedos o teu corpo
Enquanto os teus olhos se debruçam nos meus
Um sonho utópico...
Foi nesta idade que o amor me foi buscar
Como um ato de coragem
Que alguém precisa de ter
E eu preciso de te ter
Sei porque te quero
Porque me fazes bem...
Quero-te por te querer também
E não te quero longe de mim um dia que seja
Pois não sei viver da saudade
Mas quando não estas aqui
Eu desenho-te neste papel branco
Para que possa tocar-te o rosto
E ver os teus olhos brilhar
Sentir-te perto de mim

terça-feira, março 13, 2018

Hoje é um dia
Em que te queria só para mim
Tocar-te no rosto e sentir-te
Fazer-te uma ternura ou um carinho
Sentir os teus braços no meu pescoço
Nascia em mim uma profunda primavera
Numa alquimia perfeita
Hoje não quero sair para a rua
Quero ficar aqui
Á espera que venhas
Que me despertes e me beijes
Me faças sonhar e divagar
Um fazer de não fazer nada
Um conto de não contar nada
Um ver-te mais que te ter
Mas só me resta pintar com palavras
O teu nome para que te sinta perto de mim
Pois entro num vazio que é só meu
Um vazio cheio de saudade
Cheio de nada

É assim a noite...
Tão densa
E misteriosamente minha
E eu passo por ela
Embriagado
Numa valsa de cristal
Onde as sombras se cruzam
Num ato quase angélico
Como se fosse um primeiro poema
Onde as palavras cantam
E as bocas se tocam
Num mistério nocturno
Onde o silêncio...
Esse se transforma num grito colectivo
E acaba numa combustão sagrada


segunda-feira, março 12, 2018

Não aguento mais esta solidão
Quero-te e não estás
Preciso e não te encontro na noite
Prefiro não ter-te
A consumir-me desta maneira
Todo o teu amor será que pode ser meu?
E o tempo passa
E não estás aqui...
Encosto-me num sofá já cansado
E adormeço
Estou tão cansado de estar aqui
Se tiveres de ir
Então vai
Se tiveres de ficar então fica 
Não me deixes sozinho esta noite nem todas as noites




Tremo de medo
Desta solidão fria e amarga
Onde não te tenho
Entristece-me...
E por vezes prefiro não te ter
Este sonho que nos separa
Deixa-me louco
Pois penso em ti e não te tenho
E parece que tudo morre á minha volta
Talvez eu já não saiba amar como um homem forte
As palavras de amor já não me saem da boca
Que agonia
Apetece-me nascer como uma palavra escolhida
Para não estar só
Irremediavelmente só

sábado, março 10, 2018

Tenho saudades
Do leve e suave toque do teu beijo
Aquela doce sensação de te ter
É que renasceu-me a exaltação
E nesta noite de sonhos
O tentador toque dos teus olhos
Não me larga
Não me deixa
Só me consome
E nesta profunda distância
Onde a luz desmaia
Recordo-me de ti
Essa imagem fugida que quero alcançar
Não me satisfaz a fome de te ter
Quero-te

sexta-feira, março 09, 2018

De súbito os meus pensamentos foram-se
Numa clara noite fria e molhada
Mais uma que não te vejo
Nem o rosto me sai da mente
E as vozes interiores que falam
Para não se calarem com o tempo
Dizem-me que eu sou do mundo
Mas eu sou teu
Fico num canto relembrando os dias
Aqueles que nos vimos
Fugazes mas doces
Talvez os meus olhos estejam adormecidos
Na recordação do teu olhar
A verdade é que te quero
Muito mais do que um simples momento
E a utopia no meu pensamento
Deixa-me sonhar mais alto
E não me deixa sossegado
Pois tenho sido um homem simples
Errante no amor mas com paz interior
Repouso assim o meu olhar no vazio
Que me leva a ti
Aos teus olhos
Tua boca
Teu corpo
E mordo as palavras que te quero dar

domingo, março 04, 2018

Escrevo para mim...
Mesmo que eu não possa ver a minha poesia
Com os meus olhos de olhar interrompido
E mesmo sabendo que no oceano da vida
A própria vida se perde
E se afasta de um tanto que é nada
De uma solidão quase salpicada de sal
Pois quem sou eu que não sei
Senão um fruto de uma adolescência perdida
Mas não são as lembranças que se arrastam
Entre magnólias e noites mal dormidas
Pois há cemitérios cheios de traças e carcaças
Cheios da vida que se foi
Cheios de nada
Cheios de ossos e granitos
E então porquê os mortos?
O que subsiste para além do nada que é tudo?
Mesmo que eu não possa ver a minha poesia
Com os meus olhos de olhar incessante
Escrevo ao miudo dentro de mim
E pergunto-lhe - "Que fazes aqui neste lugar?"
De paredes débeis e tristes que não te deixam sonhar
E vejo-me detido na humildade
Um coração envelhecido e afogado
Triste
Ressoa como um relógio de parede afinado
E o sangue corre e não pára
Nada pára
Nem o amor pela noite súbita
Mas diz-me porquê os poemas?!
Se não se comem as palavras
Se não se come o poeta
Se não se ama a vida
Os poemas ficam talvez para uma eternidade estupida
E as criticas mudas e idiotas dos homens simples
Nada me dizem
Senão anunciar-lhes que não viverão para além do tempo
As pessoas morrem os poemas não
E o estranho é pensar que com um unica vida
Não se aprende o suficiente
Mas escrevo para mim

quinta-feira, fevereiro 22, 2018

Então eu voo e caio
E desço assim pra baixo
Desorientado em direcção a nada
Debruço-me nos altares do mundo
E deixo-me cair
Na terra
No mar
Ninguém sabe quem era eu
E àquela altitude ninguém jamais ousou conhecer-me
Nem eu tampouco me mostrava
Mas em camara lenta
O sonho desmontava-se
E a tela escurecia
E eu sem ninguém saber
Caia desamparado pelo ar
Como que se voasse num caminho frenético
E as nuvens passavam por mim
E eu tornava-me uno com elas

sábado, fevereiro 17, 2018

Gosto quando vens
E estas aqui
Quando me amas de noite
Quando te amo
Gosto de ser teu
E gosto quando és minha
Ate quando o sono cai em mim
Eu queria que ficasse a noite contigo
Seja como for eu quero-te
Gosto de ti

Ah... quem sabe se não morri
E não estou ali mais
Não ouço ninguém
Nem vejo quem me queira ver
Porque o que é a presença do mundo
Senão sou eu neste momento
A minha palavra não passa de uma linha mal feita
Um "gatafunho" da minha alma
Que se expressa neste papel vazio
Pois não durmo nem quero dormir
Preto no branco
Onde o melhor improviso é espontâneo
Preciso disto para me identificar
Com o mundo
Caso contrário nem na morte adormeço

sexta-feira, fevereiro 16, 2018

Se um dia destes eu andar por ai
Sozinho pela rua
A ver as montras e as pessoas que passam
Sabe que penso em ti
E me cruzo contigo na minha cabeça
E as palavras que te quero dar
São tiradas do meu intimo
Onde só eu sei sonhar
Ao ritmo brusco da vida
Que se mostra desafinada e por vezes feliz
La no meio eu paro para ver as modas que passam
Para me rir das pessoas que se cruzam comigo
Mas não sabem quem sou
O que sou
O que penso
O que sinto
Se me vires sozinho na rua
Então toca-me e abraça-me

quinta-feira, outubro 12, 2017

Gostava que viesses hoje
Mesmo que fosse de noite
Estou cansado mas dava-te um beijo
Pintado de seda era como um chocolate na minha boca
E os meus braços abraçavam-te inteira
Quem me dera que viesses esta noite
Fazer amor nos meus braços
E a minha boca apaixonada embriagar-se na tua
Gostava que viesses hoje acompanhar-me
Nesta madrugada ainda quente de Outono
E me deixasses dormir perto de ti

sexta-feira, setembro 01, 2017

Deixemos de lado as palavras
Ficam entre os livros e as prateleiras
Vamos falar de mim
De ti
Que sentes quando estás longe?
Ou nos momentos mais escuros do Outono?
Mas primeiro, quero que saibas uma coisa
Quero o teu sorriso
Como o Sol que nasce
E quero rir-me da noite
Quando te vir perto de mim
Como um rapaz que te ama
Como um pássaro que repousa as asas
No fim de uma longa viagem
E encontra um refugio quieto
Porque cada dia cai dentro da noite
Então deixa-me repousar perto...
Perto de ti
Sem ver ou falar
Só respirar...
E receber o teu beijo de manhã
Debaixo dos teus olhos
Mas deixemos de lado as palavras
Porque de manhã ficam para quem as quer ouvir
É que esta noite está aqui presente e tu não estás...
E a saudade desenvolve-se de forma bruta
Neste território que é o meu corpo
Deliciosa saudade
E todos dormem mas eu estou aqui
Sinto-te aqui
Pois não me canso de ser homem para te amar

sexta-feira, agosto 25, 2017

Da-me o amor sem fim
E o teu sorriso de todas as manhãs
Pois assim eu vivo
E mesmo que a noite venha
Não quero dormir sem o teu conforto
Pois em teus braços sei para onde vou
Mesmo que a terra mude de lugar
Sei onde estou...
Mesmo que de repente eu me sinta velho e inútil
Sei que te encontrei a tempo de te amar
Como um desses Deuses do Oriente
Ou como um bobo de um castelo antigo
Não estarei tranquilo
Enquanto esta estranha ternura
Se misturar com as palavras que canto
É assim que te amo
Como uma ode prolongada
De um poema gritado
É que chegaste á minha vida
Onde tudo estava vazio
Como que apodrecido
E eu não sabia já sentir
Nem respirar
Talvez por tanto e tão pouco
Amo o teu ser
E estou alegre
Mesmo que ninguém veja
Mesmo assim no crepúsculo de todas as noites
De todos as manhãs
Para sempre

terça-feira, agosto 22, 2017

De noite...
Numa madrugada já rasgada pelo tempo
Onde o silêncio se confunde com o ar
Eu noturno divago sobre mim
Imaginando se este sentimento
Pode ser real para sempre
Como uma constante matemática
Numa formula eternamente aurea
Dou comigo a escrever estas palavras
Quase sem força nos meus dedos
Para que alcancem um vasto universo
São o meu ser
E agora sinto-me tão só
Numa solidão que é só minha
Sem tristeza por perto
E ouço o mistério da noite
Que canta só para mim
Numa paz suave que me embala a alma

A calma que arde no meu peito
Inunda a minha mente
E o que vejo com estes olhos tão cegos
O teu sorriso...
Que abre todas as janelas da minha vida
E na minha vida toda eu andei
Como que a procurar-te
E agora chegaste...
Estas perto
Numa suavidade quase secreta
Mas há outros dias que ainda não chegaram
E eu quero alcança-los
E quero saber se vens comigo
Como alguém que vem ver o ar puro
Depois de uma noite inteira a beira mar

A noite passa
E eu passo e perpasso as minhas mãos
Pelo teu corpo
Sinto-me teu...
Só teu
Num triunfo de amor que é nosso
Os meus dedos encontram-te
Os meus lábios procuram incessantemente
Os caminhos do teu corpo
E o teu sabor deixa-me num desespero
Quase louco
Com esta fome de te ter
É então que adormeces e eu te olho
E me sinto feliz num momento único
Amo a noite como te amo a ti
Tão somente quero ser teu
E quero mais desse ambar
Tao calmo e doce
Tão teu e meu
Tão triunfalmente nosso

Então já não me vou embora
Fico aqui á espera do tempo
É que já não estou triste
O caminho fez uma curva
Onde o amor passou
E que curva...
Como uma viagem a Marrocos
E aqui estou
Sentado
A divagar
Seriamente feliz
Mas calmo e sereno
Como uma árvore com voz
A espera de ti
Porque sei que vens

No meio da tempestade
Encontrei esperança
Paz
E amor

sábado, agosto 12, 2017

Deste modo eu penso em ti
Como se a complexidade da vida
Estivesse em descrever-te
E nas palavras me perdesse 
Como se eu sem querer
Te quisesse tocar no rosto
E reconhecer-me nele
E ainda assim sou alguém que pensa
Que se inunda em ti
Sem saber como ou porquê
Sem mesmo ainda os nossos olhos se tocarem
Será um sonho?
Suave então é este o sonho
Pois tu enches-me a alma
E sem quereres fazes-me sonhar
Como um brutal sentir
Que me apetece dar-me á realidade
De te ter


Há um mistério...
Nestas manhãs de verão
Uma perturbaçao de saudade
Que me atrai e me faz sentir a tua presença
Como se te conhecesse durante todas as minhas vidas
Uma ansia de te ver
Como uma inexplicável força de te ter
E ao pensar em ti
Há em cada dia tudo aquilo que me anima
Tudo isto é nada e tudo
E no cansaço da noite
Atropelo-me com as palavras
Tentando descrever-te só para mim
E todo o meu corpo sem explicação
Treme de saudade
De um querer mais do que querer
De repente
Assim como quer a vida
Encosto-me a um canto
E falo prudentemente comigo
Pudesse eu, falar assim sempre
Num dia em que Deus estivesse a dormir
E talvez lhe perguntasse quem sou eu
Um simples viajante?
Encolho-me e tapo-me
E sinto-me tão perto de mim
Só o sentir me faz ser
E sinto...
Sinto tudo duplicado
Como se quisesse gritar ao mundo
O que vejo e não vejo
Na minha imaginação assim tão de repente
Encosto-me acostumado a pensar
Quem sou eu


segunda-feira, julho 24, 2017

Às vezes quando estou aqui
Tento imaginar-te junto a mim
A sorrir ou simplesmente em silêncio
O meu pensamento voa
E não quero parar
Não sei para onde vou
Nem quanto tempo demoro
Só quero imaginar-te
Pequena e confortável no meu abraço
E para mim quero que fiques tão na minha pele
Mesmo que seja por poucos minutos
Por pouco tempo
Para que me recorde que estou vivo
E que ainda sinto
Mesmo que seja um breve sentir
Como um suspiro de felicidade
Mesmo que seja curto
Pois sei que a vida voa e o tempo passa
E de certeza que passa
Então sinto-me bem
Ao sentir-te tao perto do meu pensamento
Do meu refúgio
Da minha pele

sexta-feira, julho 21, 2017

Quero que saibas uma coisa
Talvez não seja uma coisa qualquer
Porque no encanto da noite
Nada é despercebido
Então eu não sou o homem
Mas sim o menino
Que se perde no teu olhar
Talvez para se encontrar
É que no escuro da noite também te encontro
E a cor da tua pele deixa-me sonhar
E não te conhecendo, conheço-te
E não te tocando, toco-te
E não te falando, falo-te
Porque é assim a noite calma e escura
Quando penso em ti

terça-feira, julho 18, 2017

Perco-me na noite contigo
Ouço a tua voz que passa por mim
Como uma doce palpitação
Que me faz sonhar
Desconheço o sabor desse abraço
Mas quero envolver-me nos teus braços
Procurar o silêncio calmo do teu sorriso
E se assim for...
Tocar o teu rosto, o teu cabelo
E já é tarde...
Não quero deixar-te ir
É então que fecho os meus olhos
Imagino o teu beijo que se desfaz na minha boca
Como quem morde um sorriso
Adormeço já tarde mas feliz
E assim sou

quinta-feira, maio 25, 2017

Sinto saudade da saudade de te ver
E a noite passa ardente
Sem ter razão para adormecer
Podia agora nesta noite escrever
Um poema triste
Mas só me lembro de uma palavra
Saudade
De falar contigo
De te ver
Mas a noite passa e tu estas ausente
Sem que ninguém me veja
Escondo-me numa madrugada
Tao distante que mais parece uma eternidade

quinta-feira, maio 18, 2017

Quanto mais penso em ti
Menos o tempo passa
E parece que o tempo ecoa
E todo eu quero ser teu
Oh! Deixa-te ficar junto a mim
Para devagarinho os meus braços te apertarem
Os meus olhos beberem o teu sorriso
Porque o tempo passa e perpassa
E eu nos meus crepúsculos da noite
Vejo-o fugir lentamente
Talvez porque queira estar junto a ti
Aninhar-me no teu leito
E deixa-lo passar

terça-feira, maio 16, 2017

Desboto-me com a noite
E com a noite fico
Pois é tão tarde e já não quero adormecer
Poiso as minhas mãos nos olhos
E permito-me chorar devagarinho
Como se nada fosse
E tudo fosse...
Pois que importa?
As almas também choram
E a minha tem cá uma coragem para fraquejar...
Mas só não quero adormecer esta noite
Nem me sentir abandonado neste ato de coragem

Tenho saudades
E ainda só passou um dia sem te ver
Na verdade passou uma eternidade por mim
Falei de ti á noite
E na minha solidão beijei os teus lábios
Beijei-os perdidamente
Quantas vezes me apeteceu
Vem-me buscar, peço-te...
E tira-me esta saudade que eu sei de onde vem
Prende-me os braços junto aos teus
Sente o meu coração faminto
E beija a minha boca apaixonada
Fala-me como gostas de mim
Eu escuto-te calmamente
Como se das tuas palavras saíssem os acordes
De uma qualquer guitarra antiga
E quebrassem o silêncio
Da minha solidão
Da minha saudade